Ao entrar na cabine de uma colhedora de cana, ela ajeita o cabelo e tira o excesso de batom. Tudo pronto para começar a sua rotina de trabalho que tem como escritório milhares de hectares de cana-de-açúcar em Nova Alvorada do Sul (MS). Sim, Sibele Aparecida da Silva, 33 anos, com dois filhos é Operadora de Máquinas Agrícolas Sênior em uma usina e executa suas funções dentro de uma colhedora de cana que não custa menos que 1 milhão de reais. Há nove anos ela deixou o emprego de doméstica e se profissionalizou para atuar na operação de máquinas.
Na usina, ela se prepara com os itens de segurança necessários para o trabalho no campo e ao subir na sua máquina revela o seu olhar feminino – “a colhedora estava em manutenção, não está com a limpeza em dia”, diz incomodada com a poeira. Ela confessa ter um kit básico para manter o ambiente da cabine sempre limpo e agradável, apesar das condições do campo serem desafiadoras nesse sentido.
A máquina é equipada com toda tecnologia necessária para a realização da colheita mecanizada com monitoramento em tempo real via GPS (Sistema de Posicionamento Global). Para Sibele, que é habilitada na categoria “D”, o desafio é lidar com tanta tecnologia implementada. “Você precisa estar apta, entender dessa tecnologia e investir em conhecimento técnico para dominar uma colheitadeira como essa”, afirma.
Dentro desse desafio, Sibele já enxerga a presença feminina no campo, mas admite que ainda é preciso buscar mais espaço. “A chegada da usina na nossa cidade mudou essa realidade, antes eram somente homens que operavam máquinas. Hoje tenho uma satisfação muito grande em saber que tenho capacidade de operar uma máquina como essa e fazer um bom trabalho”, revela.
Essa é apenas uma das histórias inspiradoras que conheci ao colocar o pé na estrada e ver de perto os primeiros passos da igualdade de gênero no campo. Em meio a um turbilhão de informações sobre a participação ou falta das mulheres em diversos setores da economia no País, recebi a missão de mostrar como é essa realidade no setor sucroenergético de Mato Grosso do Sul.
No cenário nacional me refiro a um setor que abraçou a Declaração dos Princípios do Empoderamento das Mulheres da Organização das Nações Unidas (ONU). A assinatura da carta, que aconteceu em outubro do ano passado, contou com dezenove grandes grupos, cinco deles com unidades em operação aqui no Estado, e surpreendeu a ONU com um recorde de adesão de um mesmo setor.
Então, aliado a isso, acredito que trago boas notícias dessa viagem. Essa não é uma história de vida isolada e não teve início ontem. Ainda conheci a Fernanda, a Wanielle e muitas outras que tornam real o empoderamento feminino no campo ou onde quer que seja. São histórias e números que vamos compartilhar ao longo do mês de março, dedicado ao reconhecimento da participação e importância da mulher no mundo.
Por aqui posso dizer, algumas sementes foram lançadas no setor sucroenergético há mais de dez anos e hoje inspiram muitas outras mulheres.
Eliane Salomão – Assessora de Comunicação da Biosul