Segundo a ANP, as vendas de etanol hidratado em maio foram de 1,87 bilhão de litros, 42% maiores que na comparação com maio de 2018
Por Marcos Fava Neves
Vamos ao resumo dos fatos de junho: na primeira quinzena, segundo a UNICA, 35,84% da cana moída foi para açúcar e 64,16% para o etanol. No acumulado da safra, processamos 170,8 milhões de toneladas, 4% abaixo das 178 milhões da safra passada, produzindo 10,4% a menos de açúcar (6,7 contra 7,5 milhões de toneladas), 3% a menos de anidro (2,5 bilhões de litros) e 6% a menos de hidratado (5,8 bilhões de litros).
O ATR por tonelada de cana está 4% menor e o mix (66%) está quase 1% maior para etanol, quando comparado com a safra passada. Estamos com qualidade e produtividade piores, refletindo nestes preocupantes rendimentos abaixo do esperado.
Em relação às empresas, três destaques: a Vale do Paraná já apresentou dados à consultoria SGS atendendo aos critérios de elegibilidade para emitir os CBios. A São Martinho espera moer 22 milhões de toneladas na safra atual (2019/20), 8% acima do ano passado, principalmente devido ao melhor clima e produtividade. Esperam ATR médio de 139 kg/t, 2% menor. Na safra 2018/19 a empresa teve lucro líquido de R$ 461,4 milhões.
A Copersucar espera que a demanda de etanol nos EUA possa crescer até 50% com a mudança permitindo adição de 15% de etanol à gasolina em todo o ano. Seus resultados rm 2018/19 (abril a março) foram positivos, com lucro líquido de 178 milhões de reais. O faturamento foi de 28,7 bilhões de reais. Refletindo o que foi a safra brasileira, seu mix de comercialização de quase 68% de etanol. Foram 3,8 milhões de toneladas de açúcar e 4,8 bilhões de litros de etanol, sendo 700 milhões de litros exportados.
No açúcar… nova projeção da Organização Internacional do Açúcar (OIA) agora coloca o superávit global na safra atual (2018/19) em 1,8 milhão de toneladas. Para 2019/20 é esperado déficit de 3 milhões de toneladas, e ao final desta safra teremos estoques 2% maiores, de quase 95 milhões de toneladas. Produziremos na safra 2018/2019 o total de 178,75 milhões de toneladas para um consumo de 176,9 milhões de toneladas. O USDA estima em 180,7 milhões de toneladas a produção global de açúcar na temporada 2019/20.
A nova estimativa da Índia trouxe a perspectiva de 28,2 milhões de toneladas de açúcar na temporada 2019/20, quase 15% de quebra em relação à atual. Segundo a Associação Indiana de Usinas de Açúcar os elevados estoques permitirão ao país continuar exportando em 2020. Por isto este anúncio de quebra nada refletiu nos preços.
As exportações de açúcar em junho foram de 1,538 milhão de toneladas, 20% menores que o mesmo mês de 2018. Este número também é 12,1% menor do que o de maio. Com isto o valor foi de US$ 447 milhões, 17,2% a menos que o de maio (US$ 540 milhões) e 22% menor que junho de 2018 (US$ 573 milhões). Neste ano vendemos 7,969 milhões de toneladas, 18% menor que o mesmo período do ano passado e valor de US$ 2,346 bilhões, 27% menor. Foi um mês de pouca novidade em preços, ficando na casa de 12 a 13 cents/libra peso e cerca de R$ 63 a saca no mercado interno.
Tivemos também o anúncio do futuro acordo entre União Europeia e Mercosul. Segundo a UNICA, no médio prazo poderemos ter aumento das exportações, chegando a US$ 2 bilhões.
No etanol… seguem as boas notícias de consumo, mesmo com a economia brasileira ainda sem aceleração significativa. Segundo a ANP, as vendas de etanol hidratado em maio foram de 1,87 bilhão de litros, 42% maiores que na comparação com maio de 2018. Nos primeiros cinco meses deste ano comercializou-se 9,03 bilhões de litros, 37% a mais. Pode-se atingir um valor de vendas entre 25 e 28 bilhões de litros neste ano. Segundo a UNICA, nos primeiros 15 dias de junho vendeu-se pelas unidades produtoras da região Centro-Sul 1,30 bilhão de litros, sendo 354,76 milhões de anidro. De hidratado foram 902,03 milhões de litros, um excelente resultado, em linha com minha estratégia deste ano de conquistarmos os tanques dos carros flex.
Sobre o futuro, o presidente da UNICA acredita que podemos produzir entre 47 e 50 bilhões de litros de etanol por safra até 2028, lembrando que hoje estamos ao redor de 33 bilhões de litros. Este crescimento será graças ao RenovaBio e tudo o que vem por trás destes investimentos em ampliação das unidades. Poderão ser emitidas debêntures no valor de R$ 62,3 bilhões por ano. O Governo estima que o RenovaBio deve oferecer R$ 13 bilhões por ano na economia, sendo R$ 9 bilhões na renovação de canaviais.
O Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) aprovou em 4 de junho o período de 180 dias para que o Ministério da Economia analise as mudanças de tributação para a liberalização do mercado (venda direta aos postos) de etanol. Parece que desta vez veio para ficar. Um dos agentes da cadeia seria o responsável pelo recolhimento de todos os impostos. É necessário a aprovação do Congresso. Além da questão tributária, é essencial ver como funcionarão os controles de qualidade, o efetivo pagamento de impostos e os créditos do RenovaBio.
Os preços do petróleo também caíram, sendo fato negativo para a cana. Uma queda inesperada de mais de 10% em um mês. Mas começaram a se recuperar no final do mês, para alento do setor de cana.
Estuda-se nos EUA eliminar o benefício que pequenas refinarias (até 75 mil barris por dia de produção) tem para não adicionar etanol na mistura de gasolina, caso o etanol cause dano econômico. Em maio foram liberadas as vendas de E15 durante todo o ano, antes apenas permitido no verão, mas teve pouco efeito. Quanto mais etanol consumido nos EUA, mais o agronegócio brasileiro ganha.
Segundo a AIE (Agência Internacional de Energia) os biocombustíveis devem ter 19% de participação no setor de transportes mundial até 2023. Maiores potenciais de crescimento estão na China e na Índia, que pode chegar a uma meta de 10% em 2020. São países onde o consumo de combustíveis cresce mais de 5% ao ano.
De acordo com a SCA os preços do hidratado este mês permaneceram ao redor de R$ 2,00/l (com impostos incluídos) nas usinas e o anidro ao redor de R$ 1,95/l. Estamos conseguindo atravessar a safra sem queda significativa, o que é muito importante.
Este mês pude participar de debate no Ethanol Summit, da UNICA, lotado! Homenageando o incansável Adhemar Altieri, em nome de quem dou os parabéns e a todos que fizeram este evento. Lá lancei meu novo livro “Novos Caminhos da Cana” que o leitor encontra em diversos sites para download, publicação que conta com prefácio assinado pelo saudoso Manoel Ortolan. Escrevo este texto da China, onde estou em imersão e os convido a acompanharem as fotos e os vídeos em minhas mídias sociais (LinkedIn e Facebook, além do canal no Youtube). Um mundo impressionante, em alta velocidade.
Finalizando… qual seria a minha estratégia com base nos fatos? O que observar agora em julho: mais uma vez, torcer pelos preços do petróleo permanecerem em patamar que viabilize a explosão de vendas de hidratado com margem para as usinas. É o que nos resta neste momento para salvar o valor do ATR, lembrando que com o andar da carruagem e a qualidade da cana até o momento, podemos ter frustração nas produções esperadas de açúcar e etanol.
Marcos Fava Neves é Professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP em Ribeirão Preto e da FGV em São Paulo, especialista em planejamento estratégico do agronegócio.
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