A primeira safra de cana registrada no Mato Grosso do Sul foi em 1978/1979, quando a Destilaria Rio Brilhante, que já não existe mais, processou 91 mil toneladas de cana-de-açúcar. Em 1986, as dez unidades em operação no Estado constituíram a sua primeira Entidade setorial, a Associação de Produtores de Álcool do Estado do MS, que dois anos depois viria a ser o SINDAL -Sindicato da indústria de Fabricação de Álcool do estado de Mato Grosso do Sul.
Até a safra 2006/2007 o SINDAL cumpriu com competência essa atividade. Não há dúvidada que a entidade criou bases para o grande salto em relevância dado pelo setor sucroenergético do MS, que passou de um discreto produtor para um Estado importante no cenário nacional de cana-de-açúcar.
Àquela época, no entanto, já se desenhava um importante ciclo de crescimento do setor sucroenergético no País, ancorado sobretudo numa ampliação do uso de energias renováveis no Brasil e no mundo.
O Mato Grosso do Sul, com ampla oferta de boas terras para o cultivo, com uma estrutura fundiária que permitia a idealização de projetos de qualquer porte e – graças à boa atuação do SINDAL – políticas estaduais pró-desenvolvimento, converteu-se em uma das novas fronteiras da bioenergia.
Naquele momento, em meados de 2008, os associados do SINDAL decidiram modernizar a gestão da atividade institucional do setor no Estado.
O modelo adotado foi o de associativismo, um formato mais dinâmico e menos burocrático que o modelo sindical vigente. Os recursos para a manutenção da entidade viriam de contribuições pactuadas entre as associadas, já desatrelando a sustentabilidade financeira da Contribuição Sindical.
Assim, no início de 2009, nascia a Biosul – Associação dos Produtores de Bioenergia de Mato Grosso do Sul, que absorveu as atividades dos sindicatos representativos das indústrias de etanol, açúcar e bioeletricidade.
Evolução do setor sucroenergético no MS
O Estado discreto de dez anos atrás converteu-se em um agente importante no cenário sucroenergético brasileiro. As 19 unidades em operação hoje já chegaram a superar os 50 milhões de toneladas de cana por safra, um crescimento de 230% que coloca o MS na quarta posição nacional.
Somos o quinto produtor de açúcar do País, com cerca de 1,7 milhão de toneladas/safra, o triplo do que produzíamos na safra 06/07. Na safra atual já superamos 3 bilhões de litros de etanol, o que nos coloca numa fraterna disputa com Minas Gerais pelo posto de terceiro maior estado produtor do Brasil, crescimento que beira os 300%. A bioeletricidade ganhou destaque no Estado, que se tornou o maior exportador de bioeletricidade por tonelada de cana moída.
Atuação
Esses primeiros 10 anos da Biosul foram de muito trabalho. Cumprida a primeira e essencial tarefa de se tornar a voz e personalização do setor no Mato Grosso do Sul, na qual cuidou de estabelecer relacionamento e parceria com o meio institucional, político, acadêmico, enfim, com a sociedade civil do Estado.
Participou no nível estadual da implementação e manutenção das políticas que resultaram desse expressivo desenvolvimento.
Coordenou processo de qualificação de três mil pessoas por ano, um dos seus esforços mais compensadores.
No plano Nacional, sempre através do Fórum Nacional Sucroenergético, entidade que concentra todas as representações estaduais, participou de todas as discussões e projetos que envolveram o setor nesse período, destacando-se aí o RenovaBio, plano nacional de biocombustíveis.
Futuro
Ainda que o MS tenha apresentado números tão expressivos de desenvolvimento, a década de 2010 entra na história como uma das piores crises experimentadas pelo setor em sua longa história.
Políticas públicas equivocadas no plano federal comprometeram a competitividade do etanol, causando o fechamento de dezenas de empresas e a perda de centenas de milhares de empregos.
Por outro lado, o açúcar tem tido momento delicado, com campanhas de comunicação que nem sempre primam pela honestidade intelectual pregando a redução de seu consumo. Além disso, o comércio no mercado externo tem sido comprometido por políticas protecionistas adotadas por outros países.
Mais desafios se apresentam. Com capacidade de refino limitada, o Brasil está à beira de comprometer o superávit comercial ou enfrentar desabastecimento de gasolina. Gargalo semelhante enfrenta o setor elétrico, que não teve que lidar com ameaça de apagão por conta de um desenvolvimento pífio do País, fruto de uma crise econômica mais ampla.
E é aí que surge uma grande oportunidade. Na esteira desses aspectos, agregados aos compromissos de redução de emissões de CO2 assumidos na COP 21, em Paris, o Governo Brasileiro – através do Ministério de Minas e Energia, desenvolveu o RenovaBio, um plano nacional de biocombustíveis.
Engenhosamente concebido, tanto que tem sido exposto em vários países, o Programa prevê em sua essência que se dobre o consumo de biocombustíveis até 2030, sem para isso lançar mão de subsídio nem de imposto.
Isso proporcionará aos investidores um ambiente com previsibilidade e aumento de demanda estruturado.
Nesse contexto, o Mato Grosso do Sul, que já se consolidou como destino preferencial de investimentos na década passada, tem tudo para aproveitar o bom momento que se apresenta e converter ainda mais potencial em realidade.
Para tanto, precisa demonstrar para os investidores – já instalados aqui ou não – que o ambiente continua bom, quer na relação com o poder público, no apoio ao desenvolvimento de mão de obra, logística e na imagem junto à sociedade.
A Biosul está pronta para o desafio.
Roberto Hollanda Filho é presidente executivo da Biosul desde 2009.