FCStone projeta em 595 milhões de toneladas, 1% acima da safra atual, mas 10 milhões de toneladas acima da última projeção, graças às chuvas, aponta o professor
Vamos ao nosso resumo mensal canavieiro de janeiro, período que muitos tiraram férias e seguiram com obras para deixar as usinas “nos trinques” para a próxima safra. No relatório da UNICA, a moagem acumulada, até a metade de janeiro, estava em 578 milhões de toneladas, 2,8% acima da safra anterior. A produção de açúcar está em 26,5 milhões de toneladas, praticamente igual, e a de etanol em 32,20 bilhões de litros (6% maior), sendo 9,87 bilhões de anidro e 22,33 bilhões de hidratado.
Mais projeções para a próxima safra (2020/21): a FCStone projeta em 595 milhões de toneladas, 1% acima da safra atual, mas 10 milhões de toneladas acima da última projeção, graças às chuvas. Destas, 37,8% seriam destinadas ao açúcar (contra 34,1% da atual), o que levaria a 29,4 milhões de toneladas (26,6 milhões nesta), representando aumento de 10% no volume de produção. A produção de etanol cairia 6%, dos atuais 31,7 bilhões para 29,9 bilhões.
Nas notícias das empresas, a São Martinho já completou a criação de Créditos de Descarbonização (CBios), vindos da Usina Boa Vista, em Quirinópolis (GO). Segundo a ANP, outras cinco usinas estão com os processos prontos. Aliás, em janeiro, com dois excelentes profissionais da São Martinho, Agenor e Walter, tivemos a oportunidade de apresentar o caso da empresa na reunião anual de executivos do agronegócio dos EUA, a AAPEX, em Orlando (FL). Impressionamos os americanos com os números e os resultados de construção de margens em meio a crises do setor.
Segundo a ANP, existem, hoje, no Brasil, 18 usinas em construção, sendo 7 de etanol de milho. No entanto, são projetos que estão há tempos nessa lista. São praticamente 360 usinas autorizadas a produzir etanol.
No açúcar, estima-se que os subsídios da Índia provoquem perdas ao Brasil de US$ 1,3 bilhão ao ano. No ciclo 2019/20, o país deve colocar no mercado 6 milhões de toneladas com subsídios, das 26 milhões que serão produzidas. A produção deve cair 22% devido aos problemas climáticos (seca e inundações), desde o início da safra, em 1° de outubro até o final de janeiro, a produção foi 25% menor (14 milhões de toneladas). Caso não fosse isto, e produzisse novamente 33 milhões de toneladas, seria outro desastre. O Brasil segue firme no contencioso contra a Índia na OMC, mesmo com a visita do Presidente e da delegação de agro feita em janeiro.
Na safra 2019/20, a Tailândia deve produzir quase 30% a menos, graças à seca, não passando de 10,5 milhões de toneladas. Deve exportar apenas 6 milhões, sendo que na safra atual vendeu mais de 11 milhões de toneladas.
Segundo a Archer, ao câmbio atual e com o preço de 14.61 centavos de dólar por libra-peso, o açúcar vale R$ 1.440 por tonelada. A empresa estima o custo médio de produção em R$ 1.100 por tonelada FOB Santos. Isso aumentou as fixações da safra 2020/21 e já hedges para 2021/22, garantindo parte dos resultados. Até 31/12, pela Archer, 35% do açúcar da safra 2020/21 a ser exportado, do total esperado de 19,5 milhões de toneladas, haviam sido fixados a um valor médio de R$ 1,244 por tonelada, posto no porto de Santos.
No etanol, na primeira quinzena de 2020 foram vendidos 1,25 bilhão de litros, sendo 1,23 bilhão para o mercado interno. Foram 354,36 milhões de anidro e 877,73 milhões de hidratado, igualando ao mesmo período do ano passado. Porém, na safra (desde 1° de abril) as vendas de etanol estão 12% acima da safra anterior. Até dezembro de 2019, as exportações de etanol foram de 1,62 bilhão de litros, 15% superiores ao mesmo período da safra anterior, de acordo com a SECEX. Boas notícias.
Segundo a ISMA (associação da Índia), o país hoje mistura perto de 5% de etanol na gasolina, e o plano é de subir a 10% até 2022, e a 20% até 2030. Falta capacidade de produção nas usinas, que hoje entregam ao redor de 3,5 bilhões de litros, para uma demanda estimada em algo próximo a 5 bilhões de litros por ano. Precisamos ajudá-los nisto.
Boa notícia veio também dos EUA, com um plano pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) para incentivar a presença de bombas com maior teor de biocombustível nos postos. Já existe hoje a liberdade de vender gasolina com 15% de etanol durante todo o ano, mas faltam bombas. O Departamento estima que 93% dos 263 milhões de veículos possam usar o E15. E diferentemente do que existe no Brasil, lá são menos de 10% os veículos flex (22 milhões) que podem usar o E85. O E15 é oferecido em apenas 1% das bombas e o E85 em 2,4% delas. O apoio seria para terem mais bombas nos postos.
O MAPA estimou os estoques de hidratado, em 1° de janeiro deste ano, em cerca de 5 bilhões de litros, quase 9% menores que na safra passada. No fechamento desta coluna, o litro do etanol com impostos, pelo relatório da SCA, estava em R$ 2,55 o hidratado e R$ 2,40 o anidro e o barril do petróleo. A Archer estima o crescimento do mercado de combustíveis em 5% neste ano, e provavelmente teremos menos etanol com a recuperação dos preços do açúcar.
O Governo segue forte na possibilidade de venda direta de etanol. Viria uma Medida Provisória (MP) que unificaria a cobrança do PIS/Confins, que seria paga nas Usinas. Segundo a ANP, hoje, aproximadamente R$ 0,13 por litro destes dois impostos é pago nas Usinas e R$ 0,11 na distribuição. Mas não incidem no anidro, pois é pago pela gasolina. A ideia seria jogar os R$ 0,242/l na usina, mas isto impactaria no anidro e no preço da gasolina. Ou a criação da usina-distribuidora pela ANP, que poderia fazer todo o processo e pagar os tributos.
A FCStone acredita em aumento de 50% na produção do etanol de milho nesta safra 2020/21, pulando para 2,5 bilhões de litros. Estudo do PECEGE mostrou que os custos de produção de etanol de milho na safra 2018/19 foram de R$ 1.709 por metro cúbico, contra R$ 1789 no da cana. O estudo foi feito em Usinas Flex (já são 11 unidades no Brasil). Segundo o estudo, as margens começam a ficar discutíveis com o milho acima de R$ 40/saca e o preço do etanol abaixo de R$ 1,90/litro.
Quais são os cinco principais fatos para observarmos agora em fevereiro?
1 – Acompanhar o desenrolar das safras da Índia e Tailândia, que vêm tendo boas quebras, e os impactos nos preços do açúcar. Ao fechar esta coluna estava em 14,60 cents/libra peso. Acompanhar a evolução da taxa de câmbio e as fixações de açúcar das safras 2020/21/22, que ditarão o mix;
2 – Evoluções do preço do petróleo, cujo barril do Brent em um mês caiu de USD 60 para USD 54, principalmente devido aos receios com o Coronavírus, mas ao fechar esta coluna estava voltando a subir e creio que este será o caminho, de volta a perto de USD 60.
2- Acompanhar o consumo mensal de hidratado e os estoques existentes, lembrando que estão menores que os do ano passado nesta mesma época;
4 – O clima sobre o canavial que será colhido a partir de março, que vem sendo generoso, e as previsões da nova safra, que estão um pouco maiores que a atual, mas não no necessário para atender ao crescimento do consumo;
5 – A velocidade de implantação do RenovaBio como estímulo já para a safra atual.
Marcos Fava Neves é Professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP em Ribeirão Preto e da FGV em São Paulo, especialista em planejamento estratégico do agronegócio.
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